.voz rouca que falha
que tarda
eu quero que saia
eu quero que fale
como que
rara
roucamente
como uma nota que não se estende
mas está ali.

Bienal



"Desmaterializando a obra de arte no fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta

Teu conceito parece, à primeira vista,
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista
Caucado da revalorização da natureza morta

Minha mãe certa vez disse-me um dia,
Vendo minha obra exposta na galeria,
"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da gia
E muito mais feio que um hipopótamo insone"

Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno,
Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,
Rodopiando na fúria do ciclone,
Reinvento o céu e o inferno

Minha mãe não entendeu o subtexto
Da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana

Com a graça de Deus e Basquiat
Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana

Misturarei anáguas de viúva
Com tampinhas de pepsi e fanta uva
Um penico com água da última chuva,
Ampolas de injeção de penicilina

Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da siribrina
Desintegro o poder da bactéria

Com o clarão do raio da siribrina
Desintegro o poder da bactéria"





Questão de materialidade
(Fonte: Galeria-Revista de Arte nº 12, 1988).

Por Sônia Salzstein Goldberg

O texto cita os artistas Sérgio Sister, Paulo Pasta, Nuno Ramos, Fábio Magoes e Marco Gianotti , relacionando-os e comparando-os á questão da materialidade, a forma como se dá em relação ao suporte e ao processo criativo.

“ Como pode determinado trabalho de arte constituir-se como subjetividade sem tornar-se ,nesse processo de sua construção, uma metáfora, simples instrumento de um discurso que é primeiro o do sujeito e só depois o seu que lhe é anterior e portanto exterior?”
(...)

No trabalho, a constituição da subjetividade seja a mesma do suporte que eles sejam uma só coisa ou que esse dado esteja contabilizado na inteligência da obra, ou até mesmo encená-lo como farsa.
Em Sérgio Sister, o suporte não está ai simplesmente para receber uma qualificação por parte da subjetividade, ele reage, parece sem repouso, recusa-se ao acerto de uma possível verdade da matéria. Chega-se á evidencia do suporte não pela afirmação dos materiais, e sim pelo reconhecimento da superfície. Em Sérgio o campo pictórico não coincide com os limites do suporte, as pinceladas são obstinadas, mas incapazes de produzir forma, soltar o gesto a se dar como matéria . Seu fluir é comedido, mas persistente, como uma subjetividade que se registrou ali, mas não quis coincidir como suporte, ser explicitada nele. (...)

Paulo Pasta faz coincidir um signo de representação com uma ação sobre a matéria. Além disso, o espaço representacional já é dado de imediato ao tratamento da superfície, como que revestida de uma pele que contém as efervescências mais secretas da pintura, cor que fornece a ilusão de estar obrigando o corpo e também pela indeterminação do corpo percorrido por virtual linha do horizonte.

Nuno Ramos Sufoca com sua densidade pantanosa e sua dificuldade letárgica em assumir a posição vertical, as últimas esperanças de uma poética da representação. Materialidades desconcertantes: não se sabe se são fatos da ordem da visão, ou se estão a repetir em sua feição de corpos biológicos, qualquer adesão do olhar.
Ao invés de se abstrair um plano entende-se que aquela película visual que se precipita na superfície é algo residual, o excesso que escapou a normalização do campo visual, diferente da pintura de Bruno, que vive na impossibilidade com o plano e assim na descentralizaçao do sujeito , cuja presença só pode ser resgatada na indiferenciaçao turbulenta da matéria , Fábio Miguez pressupõe uma ação continente sobre esta, e daí um sujeito em tensão permanente com o suporte que então resulta. Parece ser dotado de uma sabedoria dos pequenos ganhos, ciente de que o sujeito já não ocupa o centro do campo visual.

A ação da pintura se inicia no momento de administrar essa erupção opaca e indiferente da matéria, de qualificá-la pelo trabalho do olho que aplaina os grumos, apara os excessos, dá-lhes sentido e constitui o plano. Humaniza-os.
(...)

.high art.



"...Marion Peck was born on October 3, 1963 in Manila, the Philippines, while her family was on a trip around the world, and grew up in Seattle, Washington. She received a BFA from The Rhode Island School of Design in 1985. Subsequently she studied in two different MFA programs, Syracuse University in New York and Temple University in Rome. She currently lives in Eagle Rock, CA..."





http://www.marionpeck.com/